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56 anos do Golpe. Para que não se esqueça e não se repita

Em 1º de abril de 2020, completam-se 56 anos do Golpe que instaurou a Ditadura Empresarial-Militar no Brasil (1964-1985). E, no momento em que presidente e vice-presidente da República celebram o regime que condenou milhares de brasileiros à morte, à tortura, à prisão e ao exílio, ganha ainda mais importância o ato de relembrar, debater e criticar a Ditadura. Para que não se esqueça e para que não se repita. 


Essa é a avaliação de Alessandra Gasparotto, docente do Curso de História da UFPel e militante do Instituto Mário Alves (IMA), que estuda e pesquisa o período da Ditadura. A professora, em entrevista à ADUFPel, traçou paralelos entre o que o houve em 1964 e o momento político pelo qual passa o Brasil nos últimos anos. A entrevista será divulgada, na íntegra, no programa Viração da próxima segunda-feira (6), às 13h30 na RádioCom 104.5 FM e também como podcast na internet.


Semelhanças e diferenças com o momento atual

Para a docente de história da UFPel, há, tanto em 1964, quanto no Brasil de hoje, a partir de 2013 e, com maior ênfase a partir de 2016, uma radicalização de discursos de direita. Antes de 1964, os discursos foram mobilizados pelo anticomunismo (em um contexto de Guerra Fria) e pela questão da corrupção. Há paralelos entre esses discursos e os que levaram o presidente Jair Bolsonaro ao poder. 


“Há outros elementos também em comum. Uma ação muito ativa da sociedade civil, com caráter classista. O setor do empresariado, nacional e internacional, vinculado ao capital estrangeiro, foi um dos principais mobilizadores e articuladores do Golpe de 1964. Sem falar em outros setores, como intelectuais, ruralistas. A gente assistiu, no pré-64, à formação de uma série de entidades que se articulavam para desestabilizar o governo de João Goulart”, comenta Alessandra.


“Se a gente pensar nos últimos anos no Brasil, a gente vai ver como entidades patronais, institutos conservadores, etc, tiveram papel muito importante na desestabilização do governo Dilma e na propagação do discurso anti-corrupção. Isso vai se materializar em discursos negacionistas, em discursos que pedem a volta da ditadura”, completa a professora da UFPel. 


Alessandra Gasparotto também cita diferenças entre os momentos históricos. Segundo ela, o Golpe em 1964 foi dado em um momento em que havia uma luta de massas muito grande. “O início da década de 60 foi marcado por muitas mobilizações, no campo e na cidade. No campo, há a emergência da bandeira da reforma agrária, enquanto o sindicalismo urbano, os trabalhadores da cidade, também estão muito mobilizados. Era um momento em que as reformas de base, a transformação mais intensa da sociedade brasileira, estava colocada em debate. Isso é um pouco diferente do Brasil dos últimos anos”, afirma. “A gente tem que ter cuidado para não traçar paralelos que identificam, de forma tão direta, 1964 com os os últimos anos. Estamos falando de momentos muito diferentes”, completa. 


A Ditadura em Pelotas

A cidade de Pelotas e a própria UFPel foram bastante atingidas pelo Golpe de 1964 e pela Ditadura que foi instaurada no país. Alessandra conta que, no curso de pós-graduação em história da universidade, há uma série de trabalhos produzidos sobre a Ditadura em Pelotas. 


Para a docente, é fundamental realizar essa discussão porque, durante muito tempo, as pesquisas se debruçaram sobre os grandes centros urbanos, e havia muita pouca informação sobre como foi viver a Ditadura nas cidades do interior.


“Pelotas, além de ser uma cidade do interior, é muito próxima da zona de fronteira. A partir da Lei de Segurança Nacional de 1968, todas as cidades a 150 km da fronteira, passam a ser consideradas áreas de segurança nacional. Então toda a região vai ter restrições, toques de recolher, etc. Vários vereadores e prefeitos da região foram cassados”, cita a docente. 


“A cidade de Pelotas tinha movimento social, sindical e estudantil muito intensos antes de 1964. No imediato pós-golpe, há uma série de prisões e perseguições aqui na cidade. E era uma cidade muito observada porque era rota de fuga para o Uruguai. Há um trabalho de mestrado muito interessante, da Marília Brandão, que vai debater as rotas do exílio para conseguir salvar militantes da repressão”, completa Alessandra. 


A professora também lembra que foi criada, na UFPel, a Assessoria Especial de Segurança e Informação (AESI), vinculada ao Serviço Nacional de Informações (SNI). O órgão vigiava professores, servidores e estudantes. Houve duas levas de expurgos na universidade, a primeira em 1964 e a segunda após o Ato Institucional nº 5 (AI-5). 


“Isso ajuda a gente a perceber o alcance da ditadura e como a repressão atingiu a sociedade. Muitas vezes as pessoas dizem que em Pelotas não teve Ditadura, mas a Ditadura sempre atinge toda a sociedade. Ela não atinge apenas aqueles que resistiram, que foram presos, e suas famílias”, conclui Alessandra Gasparotto. 


Ditadura nunca mais

Para a docente da história da UFPel, hoje, mais do que nunca, é importante lembrar e debater o Golpe de 1964 e a Ditadura Empresarial-Militar. “A partir da eleição do Bolsonaro, que se elege com esses discursos que reivindicam a Ditadura e nomes como Carlos Alberto Brilhante Ustra, considerado um torturador pela própria Justiça brasileira, faz com que, na sociedade, muitas pessoas reproduzam esse tipo de discurso”, comenta.


Alessandra cita, por exemplo, que, no dia 31 de março, o vice-presidente Mourão fez uma postagem reivindicando o Golpe de 1964, dizendo que os militares tiveram que intervir para salvar o Brasil. Para ela, é necessário ter muito cuidado com a falsificação e com o negacionismo históricos. 


“A gente tem que lembrar o Golpe de 1964 não só para compreender nosso período ditatorial, mas para compreender que toda nossa história recente, as nossas instituições, a nossa dinâmica social, são marcadas por esse período. A gente tem leis do período ditatorial, órgãos com a mentalidade da Ditadura. Então, discutir o Golpe hoje é discutir o nosso presente”, conclui Alessandra Gasparotto.


Assessoria ADUFPel. Imagens de ADUFPel e SEDUFSM.

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