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A pandemia contada por mulheres e suas vivências na universidade

Não há como falar sobre a pandemia de Covid-19 sem considerar de que maneira os atravessamentos sociais como raça, classe, identidade de gênero, orientação sexual, maternidade e idade influenciaram na forma como cada pessoa vivenciou esse período de anormalidade. 


Ao refletir sobre essas questões e as múltiplas formas de ser mulher na sociedade, levando em consideração as experiências tão particulares, o enfrentamento ao silenciamento e suas reverberações em termos de saúde mental, surgiu o interesse das docentes do curso de Psicologia da UFPel, Camila Farias e Giovana Luczinski, em tratar do assunto em projetos de pesquisa, extensão e ensino.  


"Agora é que são elas"

Conforme contam, a ideia de parceria começou devido ao vínculo que já tinham construído dentro da UFPel, motivadas a partir de percepções pessoais, nas quais encontraram divergências entre as narrativas do que cada uma passou durante o período pandêmico em comparação com os homens.


O primeiro projeto foi de pesquisa, "Agora é que são elas: a pandemia de Covid-19 contada por mulheres”. Ele resultou da compreensão de como, na mídia, o que ganhava respaldo era a narrativa sobre a pandemia marcada pela lógica masculina, branca e de apenas uma determinada classe social. 


“A gente começou a se questionar sobre isso porque, mesmo entre as mulheres, não eram narrativas iguais, eram de acordo com a raça, com a classe, com a profissão, mas que apontavam muitos elementos, por exemplo, como a sobrecarga, a necessidade de ter que enfrentar o medo da contaminação para lidar com o cuidado de familiares, de filhos e de pessoas idosas que, na narrativa dos homens, isso não aparecia com frequência”, confidencia Camila. 


A coleta de dados foi realizada em um questionário online, respondido por seis mil mulheres brasileiras, entre 24 de maio e 7 de junho de 2020, em uma pesquisa fundamentada na prática contra-hegemônica, que valoriza a interdisciplinaridade e objetiva construir pontes entre a pluralidade de experiências, situadas histórica, social e geograficamente. 


A partir das respostas, Giovana destaca que o primeiro recorte analisado foi o de profissionais da saúde, que enfrentavam o medo, a exaustão e a necessidade de estar na linha de frente. “As respostas dessas mulheres trazem algo da vivência delas e, ao mesmo tempo, do coletivo que nos cerca e que principalmente nos assolava, nos assustava naqueles meses iniciais da pandemia. (...) É uma saga da heroína, de querer dar conta de tudo. Não é nenhum querer, né? É uma demanda. As mulheres eram convocadas a dar conta de tudo”, ressalta. Camila relembra o relato de uma profissional da saúde que chegou a se expor ao vírus para se contaminar, porque não estava aguentando a sobrecarga.


(Sobre)vivências de mulheres na universidade

Do projeto de extensão “Agora é que são elas”, surgiu o “Elas por elas: as mulheres e a pandemia”, cujo o principal intuito foi criar pontes entre a Universidade e a comunidade, conectando mulheres e incentivando o compartilhamento de suas vivências através de textos, fotos, poemas, vídeos, pinturas, músicas, entre outros formatos. 


Outro resultado foi o livro “Tecendo Cartas: (sobre)vivências de Mulheres na Universidade”, derivado do projeto de ensino “As mulheres e a Pandemia de Covid-19: Discutindo questões de gênero”. A obra revisita o percurso de docentes e discentes de diversas instituições, a partir de cartas enviadas por elas. Segundo Camila, a ideia nasceu conforme o grupo foi percebendo a importância de ampliar o espaço para que essas mulheres pudessem expor suas narrativas e contribuírem para tornar o ambiente universitário mais plural, acolhedor e aberto para as discussões de gênero. 


A professora destaca que o livro é um passo importante para que as mulheres possam olhar para as próprias experiências, reconhecer e nomear as violências e perceber que isso não é algo individual. “É um ambiente que não é feito para nós, não é feito para a diversidade de vivências de nós mulheres, dos nossos corpos. Eles não são bem vistos na universidade. Eu, própria, fui mãe no ambiente universitário e é muito difícil um corpo que está gestando, que amamenta. E há uma lógica institucional bastante violenta, bastante rígida, que violenta nós mulheres de diferentes formas. Ainda é uma condição de subalternização, de violência. Há uma cultura institucional que a gente precisa começar a desconstruir”. 


Por isso, enfatiza ser fundamental ter um grupo de pessoas pensando questões de gênero, ações reais dentro das instituições de ensino para que estas possam se tornar um ambiente mais possível para a permanência das mulheres.

Para Giovana, essas dificuldades estão relacionadas à hierarquização do conhecimento, que também é dos corpos. Segundo a docente, a produção do conhecimento corporificado, situado e plural esbarra em uma lógica hegemônica, cartesiana, uma concepção do conhecimento que carrega dentro de si linearidade e heteronormatividade. 


“Para uma transformação, é importante lembrar que a universidade é feita de pessoas e que essas pessoas têm corpos, porque esse pensamento hegemônico, tradicional, nos faz acreditar que nós somos cabeças pensantes que vão para a universidade. (...) Então, acho que combater essa ideia cartesiana de mente e corpo e de hierarquização de emocional, racional, criativo, sistemático, metódico e poder perceber as múltiplas combinações disso, é um uma transformação desejável e que vai se tornando possível a partir desse movimento”, reflete. 


Para informações sobre os projetos citados na entrevista, acesse:

https://wp.ufpel.edu.br/pandemiadecovid19contadapormulheres/ 

https://asmulhereseapandemia.tumblr.com/

https://www.facebook.com/mulheresepandemia/

Livro “Tecendo Cartas: (sobre)vivências de Mulheres na Universidade” (https://tinyurl.com/livrotecendocartas)


A entrevista também pode ser ouvida na íntegra no programa Viração 163 aqui
A matéria foi publicada na primeira edição de 2023 do jornal Voz Docente. Leia aqui.


Assessoria ADUFPel

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