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Documentário: A Vida em um dia de pandemia

23 horas, 56 minutos e 4,1 segundos. Esse é o tempo exato que a Terra demora para girar em seu próprio eixo. O que não se passa durante esse tempo, tão breve diante do universo? Nascimentos e mortes, amores e decepções, clamores por violência e pedidos de paz - tudo elevado a milionésima potência. Todo dia é o melhor na vida de uma pessoa e o pior na de outra. Não obstante, o planeta continua a girar. Se a sua indiferença nos desespera ou acalenta, a questão é de perspectiva. Nada como um dia após o outro.


Mostrar um fragmento dessa pluralidade diária é o objetivo do documentário colaborativo A Vida em um Dia, produzido por Ridley Scott e dirigido por Kevin Macdonald a partir de vídeos enviados pelo YouTube. E se o primeiro filme, de 2010, se esforçava para mostrar como os sentimentos cotidianos eram capazes de nos unir através do globo, sua continuação feita uma década depois não precisa de muito para mostrar sua tese. Em um mundo assolado pela pandemia do Covid-19, a dor compartilhada se torna a norma.


O segundo filme da série estreou na plataforma digital em fevereiro deste ano, e foi composto a partir de 300 mil vídeos de 192 países enviados por usuários do YouTube em 25 de julho passado. A narrativa percorre a imageria, em uma seleção tanto cronológica quanto temática. Acompanhamos o planeta desde o alvorecer até o céu estrelado. A vida acorda e acontece sobre nossos olhos ao longo de 86 minutos, mas mesmo com a tentativa de mostrar pluralidade temática, o tema verdadeiro era apenas um. E ele teimava em aparecer por entre as frestas.


Na apoteótica cena inicial, em que a montagem aproxima o nascer do sol com mulheres dando a luz, a trilha cresce acompanhando um canto em alemão. É a balada Erlkönig, de Goethe, que narra a fuga de um pai e de um filho da perseguição do mitológico rei dos elfos. Nela, o pai tenta acalmar a criança, enquanto avança com o cavalo para longe do perigo. Quando o documentário abre para revelar o homem que a canta, vemos ser ele um profissional da saúde. Ele cobre sua boca com duas máscaras descartáveis e desce sobre o rosto o face shield. Seu movimento é o raccord que acompanha a aparição do título do filme – uma relação imagética que mostra que esta é a vida hoje.


Triste é saber, entretanto, o fim do poema alemão. O pai, quando enfim chega ao seu destino, percebe que em seus braços carrega o cadáver de seu filho. A criança não resistiu. Esse trecho não está no filme, mas não é preciso música para reconhecê-lo. Em uma das cenas mais marcantes do documentário, uma mãe que participou da primeira versão mostra como está seu filho hoje. Quando a câmera se vira, tremendo em meio ao choro, vemos uma urna funerária. O rapaz, aos 24 anos, havia morrido devido ao Covid-19 poucos meses antes.


Isolamento Social

Além da dor, a solidão e o tédio também se mostram o tempo todo no filme. Entrecortam as cenas, imagens de ruas desertas, trens vazios, silêncios arrastados. Pessoas isoladas, cujo vídeo-depoimento parece um testemunho de desespero. Diante do abandono e para não enlouquecer, vale até batizar as aranhas da casa para servir de companhia. Impossível deixar de imaginar como estão cada uma dessas pessoas hoje.


Em uma montagem paralela, depois de acompanharmos o relato desolador de profissionais de saúde, encontramos personagens que, por sua vez, não acreditam na doença. Gente com bandeira do país da parede, que se proclama cidadão de bem e recusa a máscara – esta “focinheira ideológica”. A cena é nos Estados Unidos, mas é fácil de se identificar. Goethe, que também escreveu sobre a desumanização de doutor Fausto, não seria capaz de imaginar tamanha degradação moral.


Na cena final, A Vida em um Dia, busca um tom de esperança. Com a noite avançada, e as pessoas se recolhendo para dormir, ouvimos uma criança sonhando com o futuro enquanto admiramos as estrelas. A mãe o abraça e diz que o ama. No entanto, após percorrer o filme inteiro, a mensagem que fica é outra. Indiferente ao amor, ou mesmo a nós, o planeta gira.


Assessoria ADUFPel

Essa indicação foi publicada no jornal Voz Docente 2/2021.



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