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Notícia

Epidemiologista esclarece principais dúvidas sobre a vacinação contra COVID-19

No episódio 60 do programa Viração entrevistamos Bianca Cata Preta. Graduada em Farmácia e mestre em Epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas, ela também atua como membro da equipe científica do comitê para enfrentamento da COVID-19 da UFPel. 


Nessa entrevista, que transcrevemos abaixo, ela esclarece as principais dúvidas envolvendo a vacinação contra a doença, reforça nossa responsabilidade enquanto cidadãos de procurar informação de qualidade e alerta: mesmo com a vacinação iniciada, até que não haja mais transmissão comunitária, será preciso manter a rotina de usar máscaras, higienizar as mãos e evitar aglomerações.


Caso prefira escutar a entrevista, você pode baixá-la em formato podcast nos principais agregadores ou clicando aqui.


Viração - Primeiramente, você poderia explicar como funciona a vacina CoronaVac, que foi aprovada pela Anvisa e que está sendo utilizada para a vacinação da população brasileira? O que significam os números de eficácia divulgados e por que são duas doses?

Bianca - O propósito de qualquer vacina é fazer com que o nosso corpo desenvolva imunidade contra alguma doença e a CoronaVac não é diferente. O objetivo dela é fazer a gente produzir uma defesa efetiva contra o Sars-CoV-2, que é o vírus causador da COVID. A CoronaVac atua com o vírus inativado, ou seja, ela não é capaz de causar a COVID-19 em quem toma vacina, mas na vacina existem alguns elementos que vão sinalizar para o nosso corpo que existe um organismo estranho para o qual o nosso organismo precisa desenvolver anticorpos. Então a gente vai produzir essa imunidade para quando e se entrar em contato com o vírus, a gente já estar com uma resposta imune suficientemente adequada para conseguir combater a doença. 


Em relação aos números de eficácia, é importante entender que eficácia é o benefício da vacinação sobre o desenvolvimento da doença, da COVID-19. Então a mídia divulgou que a CoronaVac tem uma eficácia geral de 50.38 %, o que significa que uma pessoa não vacinada tem o dobro de chance de pegar COVID comparado com aquela pessoa que foi vacinada, o que é um dado espetacular. Ou seja, a gente reduz em metade a nossa chance de pegar essa doença. 


Uma coisa que é ainda mais impressionante é que das pessoas que pegam a COVID-19, 78% delas, que são vacinadas, não vão precisar de atendimento algum. Vão ter no máximo sintomas leves e não vão precisar procurar atendimento. E o terceiro dado é que, para os casos de hospitalização a eficácia é de 100%. Ou seja, entre as pessoas vacinadas que porventura pegarem COVID, nenhuma delas vai precisar de hospitalização. Isso é um dado espetacular porque a gente vem sofrendo com a superlotação do sistema de saúde, falta de leitos, falta de oxigênio em alguns estados e cidades brasileiras. Então esses dados de eficácia são realmente muito bons. Isso para quem toma a vacina. 


Isso que eu estou falando vale para duas doses, que é o necessário para alcançar uma proteção eficaz. A segunda dose, que é a dose de reforço, é uma coisa conhecida pelos brasileiros porque outras vacinas do calendário nacional precisam dessa dose de reforço. Por exemplo a tríplice viral, que é a vacina contra sarampo, caxumba e rubéola, dada aos 12 e aos 15 meses. Ela é importante para garantir que a gente consiga uma resposta imune efetiva e duradoura. O organismo é exposto duas vezes a um vírus inativado e ele tem essa segunda chance de produzir uma resposta imune ainda mais eficaz. 


V - Há possibilidade de vacinar toda a população brasileira em 2021? 

B - A gente está em janeiro de 2021. Qualquer resposta aqui é uma resposta arriscada porque muita coisa pode acontecer. Então eu acho que a resposta mais segura neste momento é depende. A gente precisa ter vacina, ter insumos, uma logística de distribuição que faça a vacina chegar nos postos de vacinação e a gente precisa que as pessoas sejam efetivamente vacinadas. Não basta só ter a vacina, as pessoas precisam receber a vacinação. 


No cenário atual, pelo menos em um curto prazo, eu acho que está um pouco complicado para toda a população brasileira receber a vacina neste ano, mas como eu falei, vai depender de vários fatores. É um cenário que muda. A cada dia a gente tem uma novidade, a gente se depara com problemas diferentes e alguns problemas inesperados. É possível, mas haverá muita dificuldade.


V - Para que diminua de fato a propagação do vírus, qual porcentagem da população mundial deverá ser imunizada? 

B - Veja só. A gente tem falado bastante de unidade de rebanho ou de comunidades, e atualmente a gente espera que de 60 a 70% da população estando vacinada, isso vai ser o suficiente para parar a propagação do vírus. Mas de novo, embora nessa altura do campeonato a gente saiba muito mais do que a gente sabia em março de 2020, a gente ainda está aprendendo muito sobre essa doença. Os dados vão dizer. A gente vai ver isso em número de hospitalização, casos novos, óbitos, mas por enquanto a gente espera que 70% estando vacinada a gente já vai estar no cenário é muito melhor do que o que a gente está hoje.


É importante destacar também que toda a população mundial precisa ser vacinada. Porque com a rotina que a gente tem hoje de viagens, não adianta o Brasil estar vacinado, mas o país vizinho não. Então esse é um esforço coletivo e mundial o que coloca uma camada mais de dificuldade nesse cenário.


V - Quais cuidados devemos continuar tomando mesmo depois de imunizados e por quanto tempo?

B - Os mesmos. Pelos motivos que a gente já discutiu anteriormente, a gente precisa ainda usar máscara, fazer a higienização da mão com água e sabão ou álcool em gel, precisa ainda evitar aglomeração. Por que? São alguns motivos. Ninguém tem a obrigação de saber se você já foi vacinado e está imune ao vírus, então é uma questão de respeito ao próximo. 


Segundo que a gente não sabe muito bem como a vacina se comporta nos casos assintomáticos. Até que a gente saiba direitinho como é que a imunização atua nos casos assintomáticos a gente ainda precisa, sim, continuar fazendo as medidas de proteção. Os dados é que vão nos dizer. Eu sei que está todo mundo cansado, mas até que a gente não tenha transmissão comunitária, tenha um baixo número de internamentos e de óbitos, a gente ainda vai precisar continuar com a rotina de usar máscara, higienizar as mãos e evitar aglomerações.


V - Você poderia explicar como funcionam as pesquisas para a produção de vacinas e o que possibilitou que esse processo fosse mais rápido neste momento, no desenvolvimento da vacina contra a COVID-19? 

B - Essa é uma pergunta muito boa e a resposta que eu consigo pensar imediatamente é que isso foi tão rápido por que a ciência é maravilhosa. A gente não produz vacina desde o ano passado, sabe? A primeira vacina desenvolvida no mundo foi em 1796 para uma doença que hoje já está erradicada. Então tudo aconteceu como aconteceu porque existe investimento em ciência, em laboratórios de pesquisa, em cientistas, ao longo de décadas, de séculos.


Falando um pouquinho agora sobre como funcionam esses estudos, toda pesquisa para desenvolvimento de um medicamento - e a vacina é um medicamento - passa por algumas fases. Sem usar de termos técnicos, basicamente a primeira fase de desenvolvimento a gente chama de fase pré-clínica, quando o novo fármaco é testado em animais para os pesquisadores entenderem aspectos sobre a toxicidade. Se é seguro avançar para uma experiência em humanos. Passado dessa fase, em que a vacina se mostra segura, a gente vai para a Fase Clínica em que a vacina é testada em humanos. As fases seguintes são para testar a eficácia e também a segurança.


Por que foi tão rápido? Normalmente essas fases são consecutivas. Então após a primeira fase se vai para a segunda, quando esta é concluída se vai para a terceira e assim por diante. No caso da COVID-19, devido à emergência sanitária, a gente não tem 5 a 10 anos para esperar o desenvolvimento dessa vacina. Então algumas fases aconteceram de maneira concomitante. Não se pulou nenhuma fase de pesquisa - e isso é importante que seja dito. A cada período, pesquisadores independentes analisavam esses dados para assegurar que essa vacina está sendo segura para quem estava tomando e eficaz.


Não tem mistério. Tudo aconteceu muito rápido porque, primeiro, há um investimento na pesquisa. O Brasil, infelizmente, que tinha capacidade de produzir uma vacina, pela falta de investimento na ciência sofreu com isso. Então outros países tomaram iniciativas e eles conseguiram fazer isso devido ao histórico de valorização da ciência. 


O segundo motivo é que a gente conseguiu conduzir as diferentes fases de desenvolvimento desta vacina ao mesmo tempo. Uma vez que a gente sabe que a vacina é segura e eficaz, as fábricas começam a produzir essas vacinas em larga escala - como é o caso, aqui no Brasil, do Instituto Butantan que já tá montado para isso porque a gente tem um histórico de produção de outras vacinas, que é uma coisa também espetacular. O Butantã, agora, com insumos vindos de outro país consegue produzir em larga escala para poder vacinar a população brasileira e também quem sabe começar a exportar para outros países essa vacina.


V - Quais as implicações/consequências do atraso do governo federal na implementação de um plano nacional de vacinação e da disputa política em torno da vacina?

B - A gente já está vendo as consequências. O Brasil tem 9 milhões de casos, são 220 mil mortes. Em 28 de janeiro, o Brasil estava ocupando a 26ª posição em número de mortos por milhão de habitantes, então são mil mortos para cada milhão de habitantes, e essa é uma corrida que a gente não quer ganhar. 


Os números nos dizem as consequências do atraso e da desinformação que o governo federal passa. Infelizmente a gente não tem uma postura de liderança, esclarecimento e também de tranquilização da população brasileira por parte do governo federal. Todos esses percalços, de falta de insumo, atraso nas vacinas que a gente já comprou, falta de um planejamento de longo prazo para comprar mais insumo e, se precisar, para comprar mais vacinas já pronta… A cada dia é um tropeço que a gente dá e a consequência disso a gente ver o número de mortes. Fora a vergonha que a gente passa no cenário internacional.


O Brasil, nos anos anteriores, foi um exemplo de Plano Nacional de Vacinação, de produção de vacina, de alta cobertura vacinal, coisa que nos últimos cinco ou seis anos está caindo. Agora a gente entrou no entrou um ciclo de desinformação tão grande, de falta de liderança, de logística, que a gente está onde está: numa posição terrível do ranking mundial com mais de mil mortes diárias... É uma coisa terrível.


V - Em tempos de fake news, a eficácia da vacina tem sido colocada em dúvida por parte da população. Qual a gravidade dessas informações incorretas e do negacionismo da ciência? Como conscientizar a população sobre a importância da vacina?

B - Esse é um tópico sobre o qual eu penso diariamente. Por que existe tanta desinformação? O que as pessoas ganham ao produzir essas fake news? A gente sempre fala em não compartilhar notícias das quais não se tem certeza, mas antes de compartilhar alguém precisou produzir essa notícia. E a gente não pensa em quem a produz, que causa esse malefício para a sociedade que muitas vezes é irreversível. 


Numa escala de 0 a 100, a gravidade disso é máxima. Uma informação errada sobre a vacina contra COVID-19 tem potencial de afetar também a vacinação contra outras doenças, e isso é gravíssimo. Não combater esse tipo de desinformação agora pode ter um efeito de longo prazo em coisas que a gente ainda não é capaz de imaginar. Inclusive relacionadas à ciência, saúde, etc.


Agora vem a pergunta que vale 1 milhão: como conscientizar a população sobre a importância da vacina? Existem dois grandes grupos com os quais eu me preocupo: um deles são os anti-vaxxers - um movimento mundial de pessoas que são promotoras contra a vacinação, por motivos os quais eu não consigo compreender. 


O outro grupo é o de pessoas que têm receio porque é uma vacina recente, porque existem diferentes informações sendo jogadas nas redes sociais (uma que o governo federal diz, outra que a imprensa dá),e essa pessoa se sente insegura em relação a tomar a vacina.


O remédio, para isso, é a gente bombardear as redes sociais de boas informações. Os principais meios de comunicação e jornalistas estão fazendo um papel incrível de informar a população com dados seguros, confiáveis, com uma mensagem clara. Mas, infelizmente, quando você entra no Twitter, Facebook, Instagram ainda se depara com notícias que são bizarras. Dizem, por exemplo, que a vacina vai alterar o nosso DNA - coisa que é impossível. Dizem que a vacina vai causar outras doenças, mas com 40 milhões de doses já distribuídas no Brasil não há nenhum caso de reação adversa que chamasse atenção. Há alguns casos de anafilaxia, o que é completamente previsível, completamente comum.


A gente também tem um papel como cidadão que é o de buscar essas informações nos lugares certos. Como eu falei, e reforço, a imprensa brasileira está fazendo um trabalho fantástico. Eu sempre entro em sites de notícias mais populares e gosto muito do que eu encontro lá. A conscientização parte daí. 


Nosso drama é agravado, em parte, pela desvalorização da ciência, das universidades brasileiras. E boa parte disso é de responsabilidade de alguns líderes políticos. Não todos, não a maioria, mas alguns que têm bastante influência - como, por exemplo, o Presidente da República, que é chefe de estado e tem um impacto muito grande na população brasileira. 


Então o negacionismo, essa desvalorização da ciência, precisa ser combatido e é um trabalho de formiguinha. Coisa que, por exemplo, a gente está fazendo nesse programa. Passando informação adequada, segura, com alto alcance das pessoas. O caminho é esse.


V - Quando será considerado seguro o retorno às aulas nas universidades, institutos e escolas? A vacina pode ser considerada como único protocolo seguro para a reabertura?

B - O cenário brasileiro é complicado, porque nós efetivamente nunca tivemos um final de COVID-19, para que depois surgisse uma segunda onda. O que a gente teve foi uma redução de casos, depois a gente subiu de novo e hoje estamos em uma situação bastante triste.


O ideal para volta às aulas é ter baixa transmissão comunitária, um sistema de saúde que dê conta do atendimento de pessoas que precisem internamento - seja esse em leito clínico ou leito de UTI. É ter uma vigilância epidemiológica forte e atuante, e isso significa a gente ter capacidade de testagem, de devolução de resultados de maneira rápida, de rastrear contatos, fazer o isolamento dessas pessoas, acompanhar os que estão em isolamento e de fazer o registro dos dados. Isso é uma coisa importantíssima, não tem como acompanhar evolução da doença se a gente não tem dados de qualidade sendo registrados. O cenário ideal é esse. 


A vacina é uma medida que vai nos dar uma medida de segurança muito grande para o retorno às aulas. O que eu acho muito estranho é que a gente não tá conseguindo fazer abertura de escolas de maneira segura, mas optou por abrir outros estabelecimentos. De maneira alguma estou advogando para se fechar estabelecimento de alimentação, por exemplo, pois acho que para fazer isso é preciso que haja um sistema de proteção social bastante forte para garantir que essas pessoas (pequenos empresários e trabalhadores informais) consigam se sustentar. 


Por outro lado, um país que abre tudo e só fecha escolas mostra um pouco das nossas prioridades. Isso vai ter consequências importantes principalmente na população mais pobre no nosso país. Quem tem condição está estudando de casa, tem materiais adequados - tablet, computador, conexão com a internet, professores treinados para o estudo nessa modalidade remota - e aqueles mais pobres, que muitas vezes dependem da escola para fazer a única refeição do dia, para não estar em casa que é um ambiente hostil e de violência, vão ser os mais prejudicados. Sem sombra de dúvidas.


Eu, sinceramente, não tenho uma data para falar. Não existe bola de cristal para isso. Eu sei que, no Brasil, alguns estados já estão se preparando para a abertura de escolas municipais e estaduais - alguns para fevereiro, outros para março. Mas, de novo, é uma situação muito complicada e a gente vai ver quais são as consequências disso para internamento e óbitos.


V - Qual a possibilidade de novas pandemias? Saímos dessa com quais aprendizados? 

B - Olha, eu espero que tenhamos aprendido sim. A possibilidade de novas epidemias e novas pandemias (isso é, pandemias que se tornem globais), existe. Até a COVID-19 foi uma surpresa, mas nem tanto. A gente já sabia que alguma hora isso ia acontecer pelo modo como a gente trata o meio ambiente, pela globalização, enfim. Então, sim, é perfeitamente possível que outras epidemias apareçam ao longo dos anos. Eu, sinceramente, espero que o mundo e o Brasil, em especial, estejam preparados para isso. 


O aprendizado maior que eu tiro disso é o quão importante é você ter bons líderes na frente do país e como isso é determinante para como as epidemias são tratadas e quais são as consequências disso. O que a gente viu é que países que têm bons líderes conseguem, mais ou menos bem, tratar das consequências da pandemia. Países que têm péssimos líderes, aí é escada abaixo. Infelizmente, eu classifico o Brasil nesse grupo de péssimos líderes. Mas quero destacar aqui que não são todos. A gente vê boas lideranças municipais e estaduais, remando contra a maré, mas infelizmente em escala Federal a coisa é uma tragédia.


V - Bianca, gostaria de agradecer a tua participação no programa Viração. Para finalizar, há algo mais que queiras destacar para os nossos ouvintes? 

B - Eu queria falar duas coisas. A primeira delas é deixar registrado que até o momento não existe tratamento precoce contra COVID-19. Tomar qualquer medicamento sem necessidade, sem comprovação científica, é sempre um risco. E a hidroxicloroquina tem sim efeitos adversos que podem ser graves, que podem piorar o estado de saúde de quem toma esse medicamento para prevenir a COVID. 


A segunda coisa é que nós, como povo, estamos vivendo um momento delicado. Pelotas já tem, até a data da gravação, mais de 19 mil casos, mais de 300 mortes… A gente está vivendo um momento importante e o engajamento de cada um de nós é fundamental para enfrentar essa doença que já fez sofrer tanta gente, que já tirou tantas vidas. Vou repetir e chover no molhado: é importante usar máscara, manter medidas de higienização e proteção, e é importante buscar informações em fontes confiáveis.

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