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Diretor do documentário “Escola Sem Censura”, lançado ontem (5) em Pelotas, concede entrevista à ADUFPel-SSind

A estreia do filme antecede a votação do PL do Escola Sem Partido na Câmara dos Deputados, prevista para acontecer amanhã (7), em comissão especial.


Foi lançado, na tarde de ontem (5), em Pelotas, o documentário Escola Sem Censura, que aborda o universo ultraconservador do Projeto de Lei Escola Sem Partido (PL 7180/14), as perseguições a professores e de que forma a rede de atores políticos e organizações ligados à extrema direita brasileira implicam na promoção do projeto.


O evento ocorreu no auditório do Centro de Integração do Mercosul e contou com a participação do professor do IFRS, Mário San Segundo, da vereadora de Pelotas, Fernanda Pinto Miranda, e dos diretores do documentário Rodrigo Duque Estrada (professor substituto de Relações Internacionais da UFPel) e Ricardo Gonçalves Severo (professor de Sociologia da FURG), que participaram de uma roda de conversa sobre o tema após o filme.


Pelotas foi a primeira cidade a exibir a versão final do documentário. Nos próximos dias, será também lançado em Viamão, Porto Alegre, Rio Grande e Jaguarão. A ideia, segundo um dos diretores, Ricardo Severo, é circular o estado para apresentá-lo e debater o tema com a população.


Antes da exibição, Severo concedeu uma entrevista à ADUFPel-SSind. Confira:


Como surgiu a escolha do tema para o documentário? O que se busca com ele?

O documentário surgiu depois que nós fizemos uma pesquisa, eu e Mário Augusto San Segundo, um dos produtores do documentário. Nós temos uma pesquisa com as ocupações das escolas aqui em Pelotas e em Rio Grande, que aconteceram em 2016. As demandas dos estudantes eram em relação à infraestrutura da escola, em relação ao desejo de participação deles [alunos] na gestão política da escola, para saber porque que faltava alimentação, porque que faltava giz, uma relação de solidariedade com os professores que estavam com salário atrasado e também contrários ao projeto do Escola Sem Partido na versão estadual. Terminada a pesquisa, nós, em 2017, iniciamos na FURG um projeto de extensão chamado “Debates Escolares”, que a ideia era ir a escolas. Nós fizemos isso para fomentar espaços de participação e debates dos estudantes de acordo com as demandas que eles levantassem. Nós, já no princípio, percebemos a resistência das direções, de algumas direções, de alguns professores dizendo: aqui em Rio Grande não existe a lei da Escola Sem Partido, mas nós temos recebido muitas reclamações sobre qualquer tema como Direitos Humanos, gênero, racismo e bullying como sendo de doutrinação. Quais temas estavam sendo interditados. Eu, conversando com o Rodrigo [Duque Estrada], que já tinha experiência - um amigo meu, que foi meu aluno na Unipampa e hoje é professor da UFPel - e fez um documentário sobre o Saara, sugeri que fizéssemos um documentário tratando do tema sobre o Escola Sem Partido e os reflexos que isso vai ter para educação.  Então, essa é a ideia inicial do documentário, quais são os reflexos, o que os professores e os estudantes estão passando nas escolas e quem são as pessoas por trás do projeto.


O projeto do Escola Sem Partido vem sendo barrado pela sua inconstitucionalidade e há uma grande mobilização de parte da população contrária ao projeto, como tu vês a tramitação dele e o que se espera daqui para frente?

O STF [Supremo Tribunal Federal] já debateu o tema. Quando ele foi discutido em São Lourenço do Sul, quando foi aprovado, ele [Escola Sem Partido] foi juridicamente impedido porque ele não se mantém, não sustenta, impossibilita o processo educativo como um todo, acaba com a liberdade de cátedra, mas não só isso, ele acaba com qualquer possibilidade de diálogo sobre qualquer tema. É uma proposta, via de regra, de quem não conhece as relações na área da educação e compreende que qualquer relação professor/estudante sempre busca doutrinação, sempre busca enganar e é sempre ideológica. Ideologia considerada como quaisquer outras que eles consideram como sendo de esquerda, temas como cidadania, direitos humanos, gênero e enfim. O cenário que se aproxima (...) para o ano que vem, com a nova legislatura, é de mais perseguição, de mais busca de incriminar e criminalizar a profissão de professores e professoras com a justificativa que eles estão ideologizando o debate. Então, mesmo que juridicamente algumas instâncias da justiça considerem que não se mantém, não se sustenta, é extremamente importante a mobilização de todas aquelas pessoas que são favoráveis e são defensoras da educação, contrárias ao projeto. Nosso objetivo é dar uma pequena contribuição para ajudar nisso e demonstrar que o Escola Sem Partido, inclusive o nome, é enganador porque propõe a escola como um partido único, a escola sem a participação dos estudantes, inclusive evitando que eles compreendam como é que funciona a sociedade como um todo.


Hoje, há um estímulo a perseguição de professores, como tu analisas isso?

Ela [perseguição] tem que se agravado. Antes, era uma perseguição moral, reclamações de direção, reclamações de estudantes, de pais, de colegas, de alguns professores e professoras favoráveis ao Escola Sem Partido, via de regra os que aprovam a candidatura e a proposta do PSL, do Jair Bolsonaro. Agora, tem se tornado, nesse último período, durante o período eleitoral, também agressões físicas. Inclusive, muitas vezes com força policial, de perseguição de alguns professores e professoras e às vezes não é necessário nem estar no espaço de sala de aula, basta tu já ser identificado como de determinado grupo. Há casos de violência física de estudantes, de pais contra professores. Então, é fundamental que todos que estão envolvidos,  professores e professoras, inclusive estudantes, que busquem seus grupos de apoio: sindicatos, grêmios estudantis, diretórios Acadêmico, DCEs. Porque eles [favoráveis ao ESP] têm uma estratégia que é violenta. Não há uma compreensão de serem adversários, eles compreendem como inimigos, e muitas vezes querem aniquilar o inimigo. Então é necessário muito cuidado, muita calma e muita resistência também. Nós não podemos nos calar porque senão vamos retroceder muito no Brasil, na escola e de modo geral.


Quais serão as maiores perdas para a educação se o projeto for aprovado?

Na educação, primeiro, vai acabar com qualquer perspectiva de análise crítica da realidade.  Existe por trás disso um objetivo de constrangimento. (...) Os professores e professoras já estão se auto censurando e isso prejudica o processo de ensino,  de aprendizagem, de troca de informações. A ideia é que se torne de novo aquela relação verticalizada. Por trás disso, ao criminalizar professores e professoras, o objetivo é fazer com que não exista nenhum sentimento de solidariedade a esses profissionais e ao ambiente escolar, quando está em marcha um processo de precarização, de redução de custeio, tanto salarial quanto de repasse às escolas e universidades. Professores e professoras têm sido vigiados como bandidos sociais. O colega Fernando Pena, que é um dos principais defensores da escola democrática, contrário ao Escola Sem Partido, está dizendo que há a consolidação de um pânico moral. Tu facilita com que essa categoria toda se fragilize e, junto com a categoria, a educação como um todo e o ambiente escolar. A gente não pode permitir isso. Esse é o maior risco no momento.


Qual a diferença desta versão do documentário para a que foi apresentada no III ENE (Encontro Nacional de Educação) em Pelotas?

A do ENE era uma versão preliminar, não era o corte final. Nós fizemos só, em um primeiro momento, algumas entrevistas. Então, estava sem tratamento de áudio, sem tratamento de vídeo, depois nós fizemos mais algumas entrevistas. Existia, na versão do ENE, só algumas entrevistas preliminares que mostravam quem eram as pessoas por trás, e agora a gente segue toda a narrativa de quais são os possíveis reflexos para a educação.


Para assistir o documentário na íntegra clique aqui.


Assessoria ADUFPel


Fotos: Assessoria ADUFPel


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