XXVII Encontro Regional do ANDES-SN/RS: nova sede e debates impulsionam a luta por direitos
Aconteceu entre os dias 10 e 11 de outubro em Porto Alegre, o XXVII Encontro Regional Rio Grande do Sul do ANDES-SN, reunindo docentes do ANDES/UFRGS, APROFURG, ADUFPel, SindoIf, SesuniPampa e Sedufsm, para debater a Crise Ambiental e a Classe trabalhadora; Caminhos para enfrentar a Proifes no Rio Grande do Sul; e a Reforma Administrativa, além de inaugurar a tão idealizada sede da Regional RS do ANDES-SN.
No primeiro dia de encontro, o presidente do ANDES/UFRGS, Guilherme Dornelas Camara, desejou boas-vindas aos presentes, reafirmando a importância do encontro regional. A mesa de abertura contou com a presença de Daniele Azambuja Cunha (ANDES/UFRGS – 1ª Vice-presidenta da Regional RS), Itiara Veiga (FURG, pela comissão organizadora) e André Martins (IFRS – 2º Vice-presidente da Regional RS).
Guilherme Dornelas destacou a importância dos dois dias de encontro. “O XXVII Encontro Regional do ANDES-SN/RS solidifica a unidade das seções sindicais frente aos desafios urgentes da crise ambiental, o enfrentamento à Proifes no nosso estado e os ataques da Reforma Administrativa. Essa articulação é vital para a defesa intransigente dos direitos da categoria e do serviço público federal. Juntos, combateremos as barbáries que visam precarizar e sucatear nossas universidades, garantindo a qualidade do ensino e da pesquisa pública”, disse.
A mesa “A crise ambiental e a classe trabalhadora”, iniciou com a seguinte provocação: “Qual o papel do Sindicato do debate ambiental?”, realizada pela mediadora da mesa, Itiara Veiga, aos professores Paulo Brack (UFRGS) e Carlos Machado (FURG).
Paulo Brack, nos fez refletir sobre o paradigma capitalista e a falsa solução para a crise climática. O professor questiona a eficácia da próxima COP 30, a ser realizada em Belém em 2025, diante do histórico de fracassos das conferências anteriores e da persistência de um paradigma econômico que prioriza o crescimento sobre a sustentabilidade. Sua análise apontou que, apesar das discussões sobre financiamento e transição energética, as propostas são tímidas e reducionistas, ignorando os múltiplos desajustes que atingem a Ecosfera, como a perda de biodiversidade e a escassez de água doce, conforme alertado pelo Centro de Resiliência de Estocolmo. Brack aponta como crítica central que “nenhuma COP será capaz de enfrentar a emergência climática se o modelo de desenvolvimento continuar atrelado ao crescimento econômico e à concentração de capital, perpetuando mecanismos de mercado como o de carbono, que apenas aprofundam o colapso neoliberal-capitalista”.
Durante sua fala, o professor denunciou a manutenção de uma “economia de fim de mundo”, exemplificada por financiamentos governamentais que impulsionam a expansão degradatória de monoculturas, mineração e infraestrutura de exportação de commodities, mesmo com alertas sobre o ponto de não retorno da Amazônia e outros biomas. “O Plano Safra bilionário para o agronegócio e a primazia do petróleo na pauta de exportações são citados como provas de que o Brasil segue um caminho insustentável”, disse, reafirmando que diante desse cenário, a proposta é urgente: discutir novos modelos econômicos com vocações socioecológicas locais, defendendo a redução do consumo supérfluo, o investimento em eficiência energética e a ruptura com o sistema financeiro predatório, culminando na necessidade de uma Cúpula dos Povos para articular soluções de base e superar o sistema capitalista.
Carlos Machado, abordou a intrínseca relação entre a degradação ambiental global e o modelo capitalista de produção, exploração e consumo. Machado argumentou que a crise ecológica não é meramente ambiental, mas uma crise socioambiental profunda, cujas raízes se aprofundam há séculos e se aceleraram drasticamente nas últimas décadas. Ele contextualizou essa realidade em um cenário geopolítico complexo, marcado pela sofisticação da dominação capitalista, a ascensão do neoliberalismo e do fascismo, e os eventos climáticos extremos que se manifestam do macro ao micro, afetando diretamente o cotidiano e as relações sociais.
Diante desse panorama, Machado questionou o papel e a diversidade da classe trabalhadora, destacando que ela é um grupo heterogêneo, com distintas etnias, gêneros, hierarquias e interesses. Para enfrentar a “barbárie capitalista”, o professor propõe a necessidade de integrar a questão ambiental de forma central às lutas sociais, tratando a natureza como um “terceiro” nas relações entre trabalho e capital. Em sua fala sinal ressaltou que a disputa pela hegemonia capitalista se materializa nas relações sociais cotidianas e na forma como interpretamos a realidade, tornando essencial a conscientização e a ação diversificada para a construção de alternativas.
Inauguração da Sede da Regional RS do ANDES-SN
A manhã do segundo dia do XXVII Encontro Regional Rio Grande do Sul do ANDES-SN, contou com a presença do Presidente do ANDES Sindicato Nacional, Cláudio Anselmo de Souza Mendonça, e a apresentação da nova diretoria do ANDES/UFRGS, que toma posse na segunda-feira (13), formada pela presidenta, Maria Ceci Misoczky; a Vice-Presidenta, está Liliane Giordani; Débora Diana da Rosa, como Secretária; João Henrique Kanan, como 1º Tesoureiro; e Luiz Tiarajú dos Reis Loureiro, como 2º Tesoureiro; além de Guilherme Dornelas Camara, que segue como suplente, e atual 1º Secretário da Regional RS 2025-2027.
A inauguração da nova sede da Regional foi celebrada também como um resgate de memórias e uma reafirmação de um legado de militância. O presidente do ANDES-SN, Cláudio Mendonça, recordou sua jornada no ANDES desde 2012, vindo do SINASEFE, e sua primeira experiência em Porto Alegre no Fórum Social Mundial de 2003, onde o ANDES, por meio da APRUMA, teve um papel fundamental em garantir a participação da juventude de luta. “Essa vitalidade histórica é o que permite ao sindicato enfrentar ataques e derrotar movimentos como a Proifes, cuja atuação foi nacionalmente rechaçada. O ANDES representa uma concepção de sindicato independente de governos, que luta incessantemente por uma educação pública, gratuita e diversa, em uma sociedade que ainda é estrutural e institucionalmente racista, machista e LGBTfóbica. Essa postura combativa e assertiva, que “acerta muito”, é a força que culminou na inauguração desta nova sede, símbolo da persistência e da relevância da luta docente.”disse.
Por sua vez, Maria Ceci Misoczky (ex-2ª VPR), que assume a presidência do ANDES/UFRGS, e possui longa trajetória na luta sindical, afirmou que a inauguração da sede regional do ANDES-SN em Porto Alegre ganhou um significado político ainda mais profundo. “Este espaço, para além de ser um ponto de encontro, ele crava o ANDES no centro da cidade de Porto Alegre, em um território em disputa com o Proifes-ADUFRGS, que busca nos proibir de realizar ações sindicais.” A fala sublinhou a importância simbólica de ter uma presença física e visível, não mais “escondidos”, mas atuando de forma ainda mais forte, corajosa e visível, para enfrentar os ataques e legitimando a verdadeira luta antifascista do maior Sindicato Docente da América Latina. A nova sede, portanto, é vista como um ponto estratégico para corresponder à gravidade dos desafios enfrentados pelos docentes no Rio Grande do Sul e na capital.
Da mesa de abertura do segundo dia e inauguração do espaço participaram ainda Daniele Azambuja Cunha (ANDES/UFRGS – 1ª Vice-presidenta da Regional RS), André Martins (IFRS – 2º Vice-presidente da Regional RS), e César André Luiz Beras (Ex-1° Vice-presidente da Regional do ANDES-SN – FURG).
Proifes e Reforma Administrativa
O segundo dia de encontro após a inauguração da sede, contou com a mesa ‘Caminhos para enfrentar a Proifes no RS’, com Lívia Gomes dos Santos (UFG), e coordenação de Guilherme Dornelas (UFRGS). Durante sua fala, Lívia analisou a trajetória e as características da Proifes, evidenciando a importância de combatê-la. A necessidade de enfrentamento decorre da crítica a um modelo que, embora tenha surgido em 2005 e assumido a autoria de conquistas de carreira e reajustes salariais, é categorizado como um “sindicalismo amarelo”. Essa classificação se justifica por sua relação próxima com o Estado e as reitorias, ataques constantes ao ANDES-SN, e uma ênfase em “clubes de benefícios”, que, segundo a análise, desvia o foco da luta e da formação política das bases, centralizando as decisões e minando a autonomia sindical.
“A urgência em combater a Proifes é ainda mais acentuada pela sua estrutura e organização interna, que carece de democracia deliberativa”, disse Lívia, destacando a ausência de assembleias amplas, a burocratização dos espaços de luta e a concentração das decisões em sua diretoria e no Conselho Deliberativo. “Esses órgãos, cujos membros não são obrigatoriamente alinhados às bases em suas votações, criam propostas e definem critérios de negociação com o governo que podem não refletir os anseios da categoria. Assim, combater o Proifes é crucial para resgatar um sindicalismo autêntico, que promova a participação efetiva dos professores, a formação política e a construção coletiva das pautas de luta, em vez de um modelo que privilegia a prestação de serviços e a desmobilização”, finalizou.
O encontro foi finalizado com a fala de Diego Marques (UFBA) e Coordenação de Maria Ceci Misoczky, com a mesa ‘Reforma Administrativa’.
“A Reforma Administrativa representa um ataque significativo ao serviço público brasileiro, tornando crucial barrar sua implementação. A reforma, articulada em PEC, PLP e PL, aprofunda um histórico de enfraquecimento do serviço público como direito social, introduzindo a precarização da estabilidade com a figura do “cargo de provimento estável com temporalidade limitada” (10 anos), e impondo uma asfixia orçamentária através do arcabouço fiscal para despesas de pessoal”, destacou Diego, reafirmando que além disso, se prevê a vedação de direitos históricos e a centralização de diretrizes de salários e carreiras, o que desestrutura a autonomia dos entes federados e a própria noção de carreira pública.
Para as universidades e os servidores públicos docentes, esta Reforma Administrativa representa um sucateamento alarmante. “Ela prevê o fim dos concursos públicos pela generalização da terceirização, o estrangulamento das carreiras e o achatamento dos salários, impactando diretamente a atração e retenção de talentos na academia. A constitucionalização da “gestão por resultados” e a possibilidade de demissão por insuficiência de desempenho, baseada em metas muitas vezes quantitativas, ameaçam a qualidade do ensino e da pesquisa ao priorizar métricas sobre a complexidade da produção de conhecimento”, finalizando ao destacar que o conjunto dessas medidas instaura um cenário de insegurança, assédio institucional e precarização que compromete profundamente a capacidade das universidades públicas de cumprir seu papel social.
Maria Ceci finalizou destacando que “as universidades brasileiras, desde 2007, têm operado sob novos propósitos de gestão, o que as transformou em unidades administradas e resultou na perda de autonomia por meio de contratos de gestão. Essa mudança reflete um avanço radical nas modalidades de contratação e um ataque contínuo às conquistas de carreira, impulsionado por uma construção ideológica fomentada por instituições como a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), que visa criar um consenso sobre “competência e desempenho” no ambiente acadêmico, impactando diretamente a formação e a pesquisa”, afirmando que diante desse cenário, é fundamental que haja cautela na luta por novas conquistas, evitando erros que possam levar à perda de direitos já garantidos, especialmente ao se considerar que as reformas no serviço público são uma experiência contínua, transcende governos. Ceci questionou, portanto, a visão simplista de que apenas o Congresso Nacional seria o “inimigo”, e alertou para a necessidade de refinar o tom das campanhas políticas, aprendendo com os erros do passado para proteger eficazmente as instituições e os servidores públicos.
O professor Luiz Henrique Schuch, diretor da ADUFPel, destacou que o evento foi fundamental para fortalecer a articulação entre as seções sindicais do Rio Grande do Sul. “Foi um encontro importante para articular entre os sindicatos do RS o plano de lutas do ANDES-SN, em especial uma forte reação à tentativa de destruição dos serviços públicos embutida na PEC da Reforma Administrativa. A crise climática também foi tratada em profundidade. E tivemos um momento marcante com a inauguração da sede própria da Regional no centro de Porto Alegre”, afirmou.
“A análise sobre a trajetória da entidade cartorial (Proifes), que busca se apresentar como representante dos dos docentes, indicou necessidades das seções articularem denúncia e forte reação", finalizou.
A Seção Sindical do ANDES-SN na UFRGS, agradece todas as seções presentes, docentes que representam a essência de luta do ANDES, convocando mais uma vez os presentes para na quarta-feira, 29 de outubro, marcarem presença na Marcha Nacional do Serviço Público contra a Reforma Administrativa, em Brasília (DF), reforçando a mobilização em defesa do serviço público e da educação.
Delegação da ADUFPel
A seção sindical foi representada no evento pelos/as diretores/as Luis Henrique Schuch, Fernanda Fiqueira, Adriana Lourenço da Silva, Norlai Azevedo e Humberto Vianna, por docentes da base, Elaine Neves, Regiana Wille, Fabiane Tejada, Giovanni Frizzo, Rose Meri Santos Da Silva, Kelin Paliosa, Ceres Maria Torres e pelo Conselho de Representantes (CR), Adhemar Lourenço.
Texto: Comunicação ANDES/UFRGS (Jornalista Daiane Roldão), com edição Assessoria de Imprensa ADUFPel
Fotos: ANDES/UFRGS, APROFURG